1 de julho de 2011

59 - ALEX entrevista PROFº CLÁUDIO BERNARDES

Ele é natural de Presidente Prudente, interior paulista.
É Mestre em Linguística Aplicada, Especialista em Psicopedagogia, Pedagogia e é graduado em Letras.
Trabalha com Literatura Infantil, Brasileira e Portuguesa, Leitura e Produção de Textos e Educação Inclusiva. É Coordenador do Curso de Letras e Formador de professores, em cursos da UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, Jacareí e Campos do Jordão.
Participa de Projetos de Educação Continuada da Rede Estadual de Ensino de São José dos Campos.
Esteve recentemente em Portugal em um Congresso representando a UNIVAP.
Já escreveu 3 livros : Versos X Versos (2005), Versos X Versos II (2007) e atualmente está lançando o terceiro da série :  Versos X Versos III, todos eles editados pela Cabral Editora e Livraria Universitária.
E um de seus poemas tornou-se música na voz e violão de Rodrigues Neto.  
Estou falando de Anézio Cláudio Bernardes, o Professor Cláudio.


As 3 obras do professor Cláudio

Antes de entrevistá-lo, veja o que alguns amigos dizem do poeta e professor Cláudio:

" Ele tem como aliado um bloco com folhas em branco, no qual cada observação, por intermédio do seu olhar atento, é transformada em poema"     Ana Enedi Prince 

" Ler os poemas de Bernardes nos remete á nossa infância, á nossa adolescência, aos nossos dias turbulentos de hoje...ler os poemas de Bernardes é, portanto, vivenciar passado, presente, futuro, num ato de leitura que se realiza com fruição, com prazer. Ler os poemas de Bernardes nos transforma em outras pessoas..."     Eliana Vianna Brito

" O que aconteceria se os músicos compusessem só para músicos, pintores só pintassem para pintores, poetas escrevessem apenas para poetas? Nós, seres mortais, ficaríamos privados do privilégio de compartilhar obras concretas produzidas por artistas singulares. É o caso dos poemas de meu amigo Anézio Cláudio Bernardes."     Mayra Diniz Vallim
Entrevista na casa do profº Cláudio
ALEX - Olá professor Cláudio tudo bem? Vi um trabalho seu na UNIVAP em parceria com Lucimar da Silva, sobre a "Alfabetização com Jogos na Educação Infantil". Inclusive, usando um "Bingo de Letras". Conte um pouco pra nós sobre esta pesquisa.

CLÁUDIO - O referido trabalho, visando à formação acadêmica da aluna Lucimar, teve como objetivo verificar, na literatura contemporânea, os pressupostos filosóficos de autores que teceram considerações sobre a alfabetização por intermédio de jogos, bem como compreender se determinados jogos facilitam - de forma prazerosa e lúdica -, o processo de aquisição da escrita discente.

ALEX - Como você enxerga a educação em São José dos Campos?

CLÁUDIO - Há projetos sendo vivenciados, em nossa cidade - promovidos por órgãos públicos, voltados ao ensino fundamental; e, por instituições privadas, ao ensino médio -, por intermédio dos quais, realizam-se palestras e oficinas, com o intuito de atualizar e otimizar as práticas educativas docentes.
     A hipótese construída para a realização dessa pesquisa - que os jogos, por seu aspecto lúdico, podem facilitar o processo de alfabetização dos alunos -, foi comprovada.

Alex entrevistando o profº Cláudio
ALEX - E como você vê os métodos utilizados para a alfabetização no Brasil, de um modo geral?

CLÁUDIO - Apesar de pressupostos teóricos de autores contemporâneos, voltados à concepção de um processo de ensino e aprendizagem, por meio do qual o aluno se torna agente da construção de seus conhecimentos e o docente mediador dessa construção, ainda se percebem práticas não condizentes com essa concepção.

ALEX - O que você tem a dizer sobre o professor ensinar e o aluno somente memorizar?

CLÁUDIO - Segundo Paulo Freire, trata-se de um processo “bancário", por meio do qual são depositados, transmitidos, conteúdos, para que os discentes os memorizem e os devolvam, por ocasião das avaliações, e, assim sendo, esse processo dificulta a real aprendizagem dos alunos.

Alex Guimarães e Cláudio Bernardes
ALEX - Sendo Mestre em Linguística Aplicada, como você recebeu a Reforma Ortográfica?

CLÁUDIO - O novo acordo ortográfico tem como objetivo uniformizar a grafia das palavras dos países de língua portuguesa. Sou favorável a mudanças que facilitem o intercâmbio entre tais países; no entanto, acredito que temos uma língua portuguesa, no Brasil, com suas peculiaridades sócio-historicamente por nós construídas, assim como os demais países possuem as suas singularidades.

ALEX - E esse novo vocabulário na internet, com abreviações e trocas de letras. Você acredita que isso influencia o jovem em sua formação escolar?

CLÁUDIO - Particularmente, acho que a internet “recolocou” o jovem no mundo da escrita, ele, agora, lê e escreve, sociointeragindo com os seus interlocutores. Quando grafa “vc”, para “você, está pensando esta forma e não aquela forma; assim como, orientado pelo novo acordo ortográfico estará escrevendo "pinguim", e, nem por isso, estará lendo "gui", como em "Guilherme".

ALEX - Para se produzir um texto, quais são as maiores dificuldades encontradas pelo autor do mesmo?

CLÁUDIO - Para a produção de textos escritos, as maiores dificuldades encontradas pelos autores é torná-los coesos, coerentes e com progressão temática.


ALEX - Falando em autores, comente um pouco sobre os seus dois livros já lançados.

CLÁUDIO - “Versos X Versos” e “Versos X Versos II” apresentam poemas com temáticas diversas. Algumas líricas; outras, com reflexões sobre o nosso cotidiano.

ALEX - E o recentemente lançado, que é o terceiro?

CLÁUDIO - O livro “Versos X Versos III” segue a linha das duas obras que o precederam, trazendo, inclusive, um poema voltado ao público infantil, um conto de fada de um contexto diferente: “Conto-de-fada-da-roça”. (BERNARDES, 2011, p. 85)

ALEX - Muito interessante este conto, pois foge daqueles das princesinhas tradicionais e européias, é uma princesinha bem nacionalizada. Parabéns! E falando em público infantil, você que atua na Literatura Infantil, como incentivar as crianças à leitura, já que nosso país ainda não aprecia tanto os livros, apesar de estar aumentando este gosto brasileiro pela literatura, vemos isso nas bienais pelo país nos últimos anos.

CLÁUDIO - Creio que nós, pais e professores, devemos tratar a Literatura Infantil não como uma “tarefa” - uma leitura obrigatória a ser realizada para ser, posteriormente cobrada, avaliada -, mas como “algo” prazeroso, que nos seduz. Mas, para isso, devemos nos tornar modelos de leitores, “exemplos a serem observados”, uma vez que não basta à criança apenas o árido “discurso-adulto” de que: “é preciso ler”; “a leitura é importante”; dentre outros.

ALEX - Você trabalha em 3 cidades. Como é isso professor Cláudio?


CLÁUDIO - É, deveras, muito produtivo, uma vez que, apesar de localidades próximas, configuram-se em contextos distintos.

ALEX - É verdade que existe um grande admirador de seus versos? Estou falando do escritor, músico, filósofo, professor e jornalista Carlos Augusto Abranches (risos).

CLÁUDIO - Não vamos extrapolar (risos). Ministramos aulas, durante certo tempo, na mesma Faculdade e, quando pelos corredores nos encontrávamos, projetávamos falar em poesias, uma vez que ele gosta de poesia e, também, possui “veia poética”.

ALEX - E que 'veia poética' (risos). Fale para nossos leitores também, sobre o que ocorreu entre você e a Vanguarda TV?



CLÁUDIO - A Vanguarda TV apresentou o poema "Vale do Paraíba" (BERNARDES, 2011, p. 95), o qual fora musicalizado por um amigo, Rodrigues Neto, um artista joseense.

ALEX - Além de poder assistir o clipe musical deste poema com o Rodrigues Neto aqui nesta entrevista (acima) é possível acessar o link http://www.vnews.com.br/video.php?id=10193 e assistir a matéria que foi feita com sua poesia em forma de música, na íntegra no site da TV Globo Vale do Paraíba. E como é este poema Cládio?

CLÁUDIO - Seu nome é "Vale do Paraíba"

Ó verde Vale!
Que caminhos sempre foi,
Transportando ouro em pó,
E dos padres muito boi.

Sob o olhar da Mantiqueira,
Foi mudando de mansinho,
Suas montanhas faceiras,
Veem de perto, de pertinho.

Pelo seu comprido leito,
Muita história navegou,
Desde o índio guarani,
Que a Fé aqui instalou.

Sob o olhar da Mantiqueira,
Foi mudando de mansinho,
Suas montanhas faceiras,
Veem de perto, de pertinho.

Ó verde Vale!
Que acolheu a escravidão,
Nas fazendas de café,
Da porteira ao fogão.

Sob o olhar da Mantiqueira,
Foi mudando de mansinho,
Suas montanhas faceiras,
Veem de perto, de pertinho.

Ó verde Vale!
Que doentes acolheu,
Que por seu gostoso clima,
Foi a doença que morreu.
Sob o olhar da Mantiqueira,
Foi mudando de mansinho,
Suas montanhas faceiras,
Veem de perto, de pertinho.

Ó verde Vale!
De veloz transformação,
Aqui, anda-se a cavalo,
E, também, de avião.
Sob o olhar da Mantiqueira,
Foi mudando de mansinho,
Suas montanhas faceiras,
Veem de perto, de pertinho.

(Bernardes, SJCampos, 6/6/08; 6h50min.

ALEX - Você também tem o poema "Livro Emprestado" que eu adorei, pois eu também tenho vários "filhos pródigos" que nunca mais voltaram (risos). Quando você o fez estava "revoltado" porque não lhe devolveram algum livro? (risos)

CLÁUDIO - De fato, quando escrevi o poema "Livro Emprestado", eu havia procurado uma obra para reler, mas infelizmente, não a encontrara e, só então, lembrei-me de que a emprestara, porém não me recordava quando e nem a quem. Não estava "revoltado", mas com certeza, gostaria, imensamente, de que, naquele momento, comigo o livro estivesse.                 

ALEX - Não revelamos no início da entrevista em sua apresentação, mas você é pai de uma artista que já foi entrevistada por mim e que está fazendo um sucesso lá na Terra de Cabral: a cantora Dany Spinosa. Você trabalha com Literatura Brasileira e Portuguesa, por sua filha estar residindo e trabalhando em Portugal, você não pensa em divulgar seu trabalho por lá? Os portugueses adoram poesia.

CLÁUDIO - Sim, trata-se de um de meus objetivos. Amigos que residem em Portugal e que leram “Versos X Versos”, “Versos X Versos II”, e, “Versos X Versos III, recém publicado, estão viabilizando a realização desse meu projeto.

ALEX - Diga para nós alguma poesia de sua autoria, sem pensar em sua extensão, pode ser qualquer uma professor.

CLÁUDIO - Alex, como “filhos”, torna-se difícil escolher um entre todos; no entanto, como representativo, apresento “O circo” (BERNARDES, 2005, p. 19), concebido quando soube que o “Circo Garcia”, que fizera parte das minhas emoções - na infância, juventude e vida adulta -, falira:

O circo
Rufem os tambores,
Derricem as cortinas,
Derribem as lonas

Senhoras e senhores,
O circo fechou,
O circo faliu,
O circo acabou.

Silêncio!
Vácuo absoluto.
A arte entristeceu,
O povo está de luto.

Já não mais há goiabada,
Já não mais existe marmelada,
Já não mais tem “ladrão-de-muié!”.

O circo fechou,
O circo faliu,
O espetáculo acabou,
O palhaço chorou.

O picadeiro está vazio,
A arquibancada sumiu,
A plateia se extinguiu,
O cotidiano ficou mais hostil.

Já não mais há barraca da sorte,
Não mais existe o globo-da-morte,
Não mais tem pipoca, amendoim e cocada,
Já não mais há algodão-doce, e mais nada.

A bailarina dançou,
O circo faliu,
O circo acabou
O espetáculo fechou

Paira sobre a arte negra nuvem,
O palhaço já não se pinta, não vem,
Não voam velozes trapezistas,
Nem há suspense, suspiros, contorcista

O circo chorou,
O palhaço faliu,
O espetáculo expirou.

Mais animada é a TV,
Mais alegre o karaokê,
O videogame, mais atrativo,
Navegar na internet é preciso,
Mas, porém, contudo, todavia,
Nesses, não há “aquela” magia.

O mundo chorou,
O espetáculo morreu,
O circo faliu.
Quem o viu, viu.

(Bernardes, SJCampos, 6/3/03; 0h45min.)

ALEX - Você sendo um bom poeta, já leu alguma crônica de Francisco Cândido Xavier?

CLÁUDIO  - Li muitas. De sua obra, gostaria de citar: “Seu eu morrer antes de você”; “As vidas de Chico Xavier”, “Nosso Lar”, e “Amanhecer”.

ALEX - Como você analisa o conteúdo dos versos obtidos psicograficamente por Chico Xavier?

CLÁUDIO - Sucintamente: preciosos, fontes de inspiração.

ALEX - Os seus também viu Cláudio, inclusive, gostaria de citar um no final da entrevista que mostra sua inspiração e sensibilidade. Agora irei fazer um Pinga-Fogo, semelhante ao feito com sua filha :

- Poesia - verdades, transcritas de formas metafóricas e alegorias.
- Pedagogia - metodologias, teorias coladas a práticas.
- Univap - processos de ensino e aprendizagens.
- Família - união
- Deus - onisciência, onipresença, onipotência.

ALEX - Muito obrigado pela gentileza em conceder esta entrevista, professor Cláudio, e por abrir as portas de sua casa. Sucesso neste novo livro e que Deus abençoe os seus caminhos, sejam na poesia, na literatura ou em seu trabalho na pedagogia. Deixo aqui meu abraço em toda sua família e até mais!

CLÁUDIO - Desejo a você, à sua família, e a todos que compõem o seu círculo de amizade, muita saúde e paz. Um abraço-amigo; e grato pela acolhida, lembrando que “Amigo, não se escolhe/ Ele que, num ‘zoom’, te acolhe”.

ALEX - Já que o professor Cláudio encerrou sua entrevista versando um de seus poemas, finalizo com um que particularmente apreciei demais. É como eu disse á pouco, percebe-se sua inspiração e sensibilidade nele, degustem do poema "Humana Receita".

O estudo é necessário
Contudo, não é tudo.
Há muita gente estudada,
Mas da vida não sabe nada,
E devia ficar calada.

Junto a estudo é preciso,
Ter moral, amor e juízo,
Toneladas de humildade,
Batalhar pela verdade,
E abominar a vaidade.

Ter o social em mente,
Lutar contra a injustiça,
E, por homérica que seja a briga,
Atacar com o diálogo,
Assetear com palavra amiga,
Esbanjar carinho e afago,
E valorizar, sempre, a vida.

(Bernardes, SJCampos, 5/3/03, 20h40min.)

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